Filme: A pele que habito

Nota: 

MEU DEUS!!! ISSO É QUE É FILME!!

 Sabe quando você fica louca pra ver um filme, não pensa em outra coisa, e se for pra ir ao cinema só se for pra ver o tal filme. Pois é, eu estava nesse estado quando o filme A Pele que Habito estreou nos cinemas em 2011. Sofri mais de um ano. Demorei, mas assisti. E eu AMEI! O elenco, a trilha sonora, mas principalmente o enredo. Um filme assim, de tanta qualidade, só poderia ser obra do diretor espanhol Pedro Almódovar (que se tornou meu queridinho), conhecido internacionalmente pela sua genialidade e incrível capacidade em inovar, chocar, comover e emocionar com temas tão comuns no cinema, mas de forma totalmente inovadora.

O que torna esse filme tão interessante é que nele reconhecemos a verdadeira trama, que toda história deveria ter, em que todos os fatos e personagens se ligam através do fio condutor: um segredo. Aquele segredo que está lá, o tempo todo na sua cara, mas só no final você entende tudo. O suspense é quase tangível, de tão intenso, as reviravoltas na trama fazem você ter diferentes impressões a cada segundo, e a ansiedade em descobrir esse segredo faz você deduzir coisas completamente diferentes em cada etapa do filme. No começo eu achava uma coisa, no meio do filme já pensava outra, e no final algo totalmente diferente.

Mas se é para falar do filme vamos lá:

Na trama Antônio Bandeiras vive o misterioso cirurgião plástico Robert Ledgard, que desde o trágico acidente de carro sofrido pela esposa, desenvolveu a obsessão de criar em laboratório uma pele capaz de se adaptar ao corpo humano e resistir a qualquer tipo de agressão (inclusive queimaduras) ao mesmo tempo que fosse a mais bonita e macia pele já vista. Honrando o seu papel de “cientista louco” e apaixonado pelo seu projeto, Robert esquece a ética profissional e testa essa nova pele em uma mulher chamada Vera (Elena Anaya), sequestrada e enclausurada na luxuosa prisão que se tornou a casa do doutor.

A relação entre o carrasco e a prisioneira é o mais curioso. Desde o inicio do filme percebemos que existe ali algo diferente. O criador nutre uma admiração pela criatura, algo que passa pelo ódio, paixão e desejo; mas ele tem reservas em relação a ela, parece estar constantemente lutando contra esses sentimentos. E são nesses momentos que percebemos o incrível talento de Antônio Bandeiras, que consegue transmitir toda essa confusão apenas com suas expressões. A atriz Elena Anaya também surpreende, por apresentar um comportamento estranho no início, mas que ao final da trama é totalmente condizente com o que se passa com sua personagem.

No entanto não é só em Robert que Vera desperta esse fascínio. Zeca (Roberto Álamo), filho da governanta Marília (Marisa Paredes), aparece na mansão durante o Carnaval (por isso a fantasia de leopardo). Ele justifica sua visita alegando estar com saudades da mãe, mas na verdade é um bandido procurado pela policia, e por isso decide se refugiar na casa onde Marilia trabalha. E é nesse momento que ele conhece Vera, através dos monitores na cozinha por onde ela é vigiada. Fascinado pela moça, muito parecida com alguém de seu passado, Zeca amordaça a mãe e vai de encontro a Vera, abusando sexualmente dela. Robert chega pouco depois, e movido pelo ódio, mata o estuprador de sua paciente.

Depois desse ocorrido o doutor se aproxima mais de Vera, como se tivesse triste pelo que ela passou, o que é totalmente contraditório (só quem assistiu o filme vai entender por que),  mas se justifica pelo fato de o doutor confundir seu experimento com a mulher ideal, que ele moldou, e por isso se apaixonou. Com o romance entre os dois, Vera entra em contato com todo o passado de Robert, e por meio dos flashbacks, descobrimos a história triste e traumática do cirurgião. O pobre além de ter sido abandonado pela esposa que tanto amava, ter socorrido ela com o corpo todo queimado e feito de tudo para salvá-la, a viu morrer infeliz e de forma horrível, e pior, na frente da filha que tinham juntos, traumatizando a menina.

Ainda no passado, porém alguns anos depois, encontramos o doutor e sua filha Norma, já mais velha (Blanca Suárez ), em uma festa. Enquanto Robert conversa sobre a saúde da filha, que ainda toma remédios e passa por tratamentos psicológicos por causa do trauma causado pela morte da mãe, a menina interage com outros jovens de sua idade, e nessa festa outro acontecimento horrendo marca a família de Robert (e se ele ainda não era louco passou a ser), e a partir daí ele tem uma nova obsessão: se vingar. E na minha humilde opinião: que vingança! Brilhante, deveria ser assim na vida real.

E enquanto você assiste o filme diversas perguntas surgem: o que aconteceu nessa festa? De onde veio essa tal Vera? Por que, apesar do desejo que Robert sente por ela, ele parece odia-la? Pois é pessoas, o grande forte do filme é fazer você ter todas essas dúvidas ao mesmo tempo em que te dá a resposta através das várias pistas. Só quem está muito atento consegue entender toda a trama antes que ela se revele, ligando todos os pontos soltos que pareciam não se encaixar.  

Esse filme é ideal pra quem já enjoou da mesmice de Hollywood, dos filmes sempre com a mesma fórmula, quase as mesmas histórias. É algo completamente novo, uma experiência que faz você refletir a respeito de tudo aquilo abordado no filme, algo capaz de mudar sua opinião, sua visão de mundo, além, é claro de te tornar muito mais crítico e exigente.

O diretor nos mostra através dessa historia que corpo e mente são coisas separadas, e ambos mudam,seja pela ação do tempo ou da sociedade, por escolhas nossas e experiências vividas ou por imposição de outros. No entanto existe algo em nós que permanece sempre o mesmo, que nunca pode mudar: nossos vínculos, as pessoas que amamos em nossas vidas, e essa constante de todo ser humano aparece de forma espetacular na ultima cena (é de chorar de emoção).

Então pessoas, assistam o filme e não esqueçam de voltar pra falar o que acharam. Ah, e Mylla, esse ai merece cinco estralas, né.

Confira o trailer: 

P.S: Se você pretende mesmo ver o filme não caia na besteira que a trouxa aqui caiu: não assista com mãe, pai, avós, tios ou tias. É meio “picante” (não gostei muito disso), mas mesmo assim é muito muito bom.